Friday, February 08, 2008

Há corrupção em Portugal?

Primeiro, foi o Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados a anunciar que o sistema lavra em corrupção, compadrio, cambabalacho, tráfico de influências e outros mimos, embora utilizando expressões diferentes.
Depois, o General Garcia Leandro resolve publicar um artigo no Expresso, de 4 de Fevereiro, afirmando que grassa o descontentamento social e que ele próprio já foi convidado para liderar um movimento de indignação social. Logo de seguida, foi convidado para uma entrevista na SIC Notícias, onde reitera o que escreveu, não sem deixar de dizer que o dito escrito era fruto da observação que fazia do país, alicerçada por informações que recebia.
A seguir ou talvez entremeio, surgem as notícias sobre o Eng. Sócrates e umas aparentes trapalhadas sobre assinaturas de projectos alheios, seguidas de uma carta explicativa do próprio ao Jornal Público, onde fundamentalmente diz que se trata de uma perseguição. Como se o problema estivesse na divulgação e não nos próprios factos em si, sejam estes quais forem...
No meio, ouvimos com espanto o Director da PJ afirmar que possivelmente houve uma precipitação na constituição dos pais da pequena Maddie como arguidos. Possivelmente? Precipitação? Oh, Céus, mas isso não pode acontecer!! E o que acontece a seguir? Nada, parafraseando a magnífica rábula dos Gato Fedorento sobre o Professor Marcelo Rebelo de Sousa.
O trigo entretanto vai subir de preço, o que leva a pensar que a carne, as massas e o pão também irão subir de preço. Além de tudo o resto, que também já subiu, desde a gasolina, até às prestações da casa, passando pelos passes sociais, a fruta, o peixe, enfim, o Bife. Uma classe de funcionários públicos progressivamente asfixiada em salários pouco dignos, que podia fazer a máquina funcionar, não se atreve a respirar. E onde está o povo sereno, a massa cívica votante do país? "Entretida" a fazer contas? Olhando para os concursos televisivos? Lendo a TV Guia? O que se passa?
E os outros? Os que não lêm a TV Guia mas que também se "entretêm" a fazer contas ?
E ninguém se movimenta? E o que acontece?
Nada.
Descodifiquemos o que se passa antes que seja tarde de mais.
E actuemos. Lendo, reinvidicando, escrevendo, reclamando, exercendo os nossos direitos de cidadania. Não deixemos que a corrupção moral nos paralise o estado de alerta no dia a dia. Manifestações? Revoluções? Não, longe disso. Pratiquemos antes um estado de vigília democrática, para não acordarmos um dia com os subúrbios a arder...

Tuesday, January 29, 2008

Que diabo!

O regime tremeu com as declarações impúdicas do Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados. Indignados, as vozes se levantaram e disseram o Senhor não pode acusar sem revelar nomes! O Senhor não pode dizer o que todos pensam à boca calada! O Senhor devia ser dos nossos! O Senhor tem responsabilidades!!!
Não nos enganemos. Esta é uma excelente técnica de publicidade para o Senhor Bastonário. Cai bem nas grandes massas críticas e descontentes dos pares que o elegeram. Diz preto no branco o que todos pensam, dizem e por vezes assistem. Mas não o disse enquanto cidadão, em conversa privada. Disse-o enquanto Bastonário da O.A. E que consequências se podem retirar daqui? Infeliz e provavelmente, nenhumas. As palavras, meu amigo, são como o vento que passa.
Quer-me parecer que tanto as declarações-bomba seca do Senhor Bastonário como as reacções indignadas dos poderes instituídos vão ter um resultado 0. Não há memória de um caso de investigação de corrupção que tenha resultado em efectivo apuramento de responsabilidades e consequente condenação. A corrupção em Portugal é um mal de vivre não assumido, não escrito. Aliás, discute-se mesmo o que será isso de corrupção? Só porque uns amigos fazem uns favores uns aos outros? Mas o que é amizade, enfim? E que é isso da coisa pública?Isto não temos de ser uns para os outros, afinal? E não precisamos todos de trabalhar e ganhar dinheiro?
Que diabo!

Tuesday, January 15, 2008

Linguagens

Pessoas que se entendem e pessoas que não se entendem. Chova ou faça sol, falamos todos linguagens diferentes. Dizemos: Não está a entender. Não é essa a questão. Respondem-nos: Então qual é a questão? No final de círculos palavrosos, ninguém se lembra de qual é a questão. Também não interessa. Na fogueira dos tiros cruzados, pouco importa que questão se discute e de qualquer forma é preciso tirar a roupa do estendal e não precisamos de estar todos de trombas. Trombas, perguntamos? Olhe que bonita a expressão. Então e que tal um almocinho de pazes? Almocinho? Pazes? Mas não há guerra!!!
Que vão em paz. Eu vou ao cinema.
Que o tempo melhore e muita saúdinha é o que eu desejo.

Friday, December 21, 2007

Natal

E pronto. Já chegou o temido Natal.
Toca a labutar para nos reunirmos todos, com esforço e ressentimento.
Mas porquê? porquê?

Monday, November 12, 2007

D. Anabela - Um exercício banal.

Anabela boceja em frente ao écran de computador, enquanto faz umas palavras cruzadas, disfarçada e incógnita. Pensa que se um dia não aparecesse no trabalho, ninguém daria pela ausência.
Comodamente instalada, tem vários papéis espalhados pela secretária, em molhes díspares e soltos, pois os anos todos na repartição pública ensinaram-na a nunca parecer ociosa.
Bocejo, mais uma vez. Oh para quando o Verão?, pensa enquanto de língua de fora e lápis pequeno traça os caracteres de umais uma palavra nova que aprendeu: pusilânime. Anda com vontade de atirar bem atirado um forte pusilânime ao seu chefe, o Sr. Antunes, que desde que a mulher morreu anda murcho e sem graça e corre para a casa de banho de cinco em cinco minutos, fungando como se fosse fumador inveterado. Mas a definição do dicionário da Texto Editora também não se aplica assim tanto a ele. O Sr. Antunes não é propriamente cobarde nem medroso, é apenas o Sr. Antunes, viúvo, conhecem-se vai para cinco anos, nunca lhe faltou ao respeito, dá-lhe umas notificações que ela arquiva cuidadosamente numa pasta preta que diz Notificações, um dia destes vai ter de começar a numerá-las que no outro dia apareceu aí uma reclamação e ela viu-se aflita que não encontrava a notificação 0187/86.05.97, o diabo os carregue a todos, que se não fosse o Ricardo, rapaz novo e bem parecido que coitadinho se licenciou em Relações Internacionais e anda fazendo de conta que gosta de trabalhar nos Correios da Damaia, Buraca. Pobre moço, vai de lambreta. Ao menos eu venho de comboio, que as lambretas são perigosas já o meu paizinho o dizia, que deus o tem que deus o levou.
Anabela sabe que um dia ainda lhe cortam as vazas, tiram-lhe o tapete, fazem-lhe a folha. Mas está atenta e sabe disfarçar bem. Para com os seus botões pensa no que poderá fazer para o jantar. Hmmm... uns pastelzinhos de bacalhau do Sr. Carlos? Acompanhados com arrozinho de tomate solto? Já não lhe apetece cozinhar e o cheiro a fritos enjoa-lhe a narina sensível. Hoje de manhã como era segunda feira decidiu atacar o dia com uma saia plissada cinzenta que lhe rodeia a cintura e a faz sentir mais nova, mais a blusa aos folhos que ainda no outro dia comprou quando foi ao Colombo mais a prima Gertrudes. Até reparou que o senhor do quinto esquerdo, que apanha o comboio das 8h27 e sai em Entrecampos como ela a olhou com olhar de gula, que ela bem sentiu enquanto lê as gordas do Destak, que não tem tempo para ler os artigos de fundo. De vez em quando dá uma mirada aos pensamentos da D. Luísa, não percebe porque é que há uns tontos que a insultam , não entende, não gostam, não leiam, ora essa?O Sr. Antunes sai da casa de banho e ela endireita as costas. O homem está com olheiras coitado, ó Sr. Antunes que cara é essa que parece que viu um fantasma? O Sr. Antunes encolhe os ombros, cofia o bigode já ralo e suspira para quem quer ouvir ò D. Anabela, quem me dera ter a sua idade, que isto nós passamos e o tempo fica, e o que importa é ter saúde que já não a tenho.
Está quase hora de arrumar a mala e sair, que ainda tem de passar pelo Sr. Carlos, que fecha às sete e não quer perder o Malcata, que tem sempre umas perguntas tão interessantes. Bom, ela podia ter estudado mas na altura, que podia ela fazer, com a mãezinha doente, os irmãos na tropa e ela sem instrução?

Wednesday, September 26, 2007

Olá, Olá

Esta é a minha tentativa de sorrir. Dizem-me que o sorriso melhora tudo. Então ando a praticar, a dizer olá olá a toda a gente e sorrindo. Estou a aprender esta técnica no Yoga. Ou Yôga, como dizem.
Ontem consegui tocar com a perna esquerda na mão direita, numa posição bastante estranha, mas senti uma imensa alegria com esse pequeno sucesso. A perna direita recusou-se a fazer o mesmo e caí várias vezes enquanto tentava posições de equilíbrio, mas foi uma sessão pessoalmente muito divertida.
Olá, Olá!

Tuesday, September 25, 2007

Alheamento

Passo pelos dias em alheamento aéreo. Pergunto-me o que se passa no Mundo? Entro em casa e vejo que o Mundo se parece ter concentrado na minha sala. Papéis e facturas por todo o lado, sabonetes misturados com blasers e roupa de ginástica. Será fartura?
Ontem fui visitar uma prima valente e de cabelos revoltos, já perto dos 65, atirada para a cama da CUF com dois AVC seguidos para não ser atrevida. Resmungou que eram uns chatos e que tinha deixado de fumar. Perguntou-nos quando é que eu saio daqui? Todos lhe dissemos, deixa-te estar que estás bem. Ela riu-se e atendeu o telefone com a mão esquerda. Não me recordo dela ser canhota...Em frente, umas casas com quintais semi abandonados, um rapaz de óculos preparando o jantar numa frigideira. Olhei brevemente e vim-me embora. Subi a rua íngreme até ao MNE. Entrei no carro e fui prosseguindo no dia. O resto dos convivas ficou lá, perguntando sobre aquele e outro e comentando os namoros de fulano e beltrano. Jogando conversa fora e gozando o sol de fim de tarde plainando sobre a varanda do quarto.