Tuesday, June 20, 2006

Regresso?

Descubro com alguma apreensão que a última vez que postei alguma coisa foi em meados de Fevereiro. A ideia do blog parece-me tão boa e no entanto a sua execução prática revela-se tão insuficiente...
Isto não interessa nada, claro. O que interessa é que Portugal joga amanhã com o México e vamos todos almoçar até às cinco, com um ligeiro intervalo pelo meio.
O resto... são pormenores sem importância.

Wednesday, February 08, 2006

Lamento e discordo

Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos, começa assim a nota do Sr. MNE.
Estou triste. Portugal deveria lamentar e discordar do fanatismo religioso que queima bandeiras e embaixadas e se revolta contra o Ocidente de uma forma irracional e verdadeiramente assustadora com o pretexto de umas caricaturas publicadas há três meses atrás num jornal dinamarquês que ninguém sabia que existia. Da nota do Sr. MNE nem uma palavra consta sobre a reacção desproporcionada e louca que vemos nas televisões. Nem uma palavra de solidariedade ou de defesa de um bem que eu julgava ser comungado em Portugal: liberdade de expressão e imprensa. A nota continua, fala de símbolos religiosos escolhidos com parcimónia e de uma penada omite séculos e séculos de sátiras, literatura, desvarios artísticos, galhofa, sobre tudo, sobre a vida, e até, pasme-se, sobre a religião. A nota faz-me chorar. Mesmo com trinta anos de convivência democrática e pluralista, Portugal continua a ter medo. De repente, temos medo do que se escreve e desenha. Caminhamos rapidamente para o aperto do lápis mental, nem precisa de ser azul - basta a auto-censura. De repente, a pobre Europa, com as suas cartas de direitos funtamentais e do alto do seu sonho de prosperidade tranquila e tolerante, treme com as suas caricaturas e sátiras e de rabo entre as pernas despede jornalistas e pensadores, escritores, desenhadores, sátiros, críticos, tudo o que possa perturbar a falsa paz de espírito da democracia e acitar os ânimos ferozes de outras culturas. "Liberdade de pensamento e de expressão tem limites", dizem. "Não há liberdade sem responsabilidade", prosseguem. Pois é. Sejamos responsáveis então. Aceitemos que a crítica e a sátira, seja qual for a sua natureza, faz parte da cultura humana e é uma das inúmeras formas de expressão de pensamento, pelo qual muito se lutou e pugnou ao longo da história. Em caso de putativos excessos e danos, o direito e muito especialmente o bom senso, devem reparar tais danos e ofensas - se as houver. Mas não peçamos desculpa, por favor. Estou triste, Sr. MNE.
Não resisto em reproduzir aqui o texto do VPV.
O DIOGO DO COSTUME

Diogo Freitas do Amaral nunca deixará de ser o menino exemplar do salazarismo e o discípulo dilecto de Marcelo. Perante a histeria muçulmana, que é um acto político de intimidação do Ocidente, escolheu a subserviência. Este "súbdito", como ele um dia a si mesmo se descreveu, não hesitou em condenar as caricaturas dinamarquesas (que não passam de um pretexto), porque ofendem a "sensibilidade religiosa" do Islão e porque incitam a "uma inaceitável guerra de religiões". Como se a "rua" que se manifesta, se manifestasse espontâneamente com conhecimento de causa e como se quem incita à "guerra de religiões" não fosse o próprio Islão. Freitas finge que não vê o carácter deliberado e fabricado de um "movimento", que chegou ao mundo inteiro em pouco mais de uma semana, e colabora em paz de espírito com os piores fanáticos. Nem desprezo merece.
Para acabar, e no espírito da escola a que pertence, Freitas, já agora, também se queixa da liberdade. "Liberdade sem limites", sentenciou ele, com certeza com o dedinho espetado, não é liberdade, é licenciosidade". Salazar aprovaria o sentimento, mas não a ignorância. "Licenciosidade" significa "desregramento dos costumes" e "do comportamento"; o contrário ao "decoro" e "à moral estabelecida". Freitas, coitado, estava a pensar em "licença".
É triste pensar que este homem representa Portugal e, apesar de tudo, um governo socialista.
vpv
http://o-espectro.blogspot.com/

Monday, January 30, 2006

Exercício

Despego a cabeça mole e sem vida da almofada, ofereço cabelos sem que me dê conta. Em frente, apanho o reflexo de um rosto desalinhado de melenas torcidas e levantadas no ar com a força da preguiça matinal e da urgência do shampoo. Estremeço de calafrios. Abro os braços para cima e desentorpeço a cervical enferrujada de uma noite tímida. Destapo-me de rasgo, o edredon voa pesadamente até cair derretido no chão.. Tenho os pés assentes na terra. Dou uma topada nos chinelos, que fogem cada um para o seu canto do quarto escuro e semifranzido. Correm-me as lágrimas de tentar ver as horas sozinha sem ajuda clínica. O despertador emudeceu mas fita-me zombateiro e implacável. Ignoro-o com uma careta. Dou passos curtos até à janela, contando os tacos que reclamam verniz. Puxo o braço direito para fora e deixo que dia me percorra suavemente até que a pele se erice. Regresso o quarto em sprint atlético. Mergulho ofegante na cama mais cinco minutos. A culpa tortura-me até as unhas dos dedos mindinhos. De um salto, ergo tudo e imagino que me esticam os tendões numa ponte. Levanto-me finalmente. Arregalo os olhos de tanta luz. Inaugurei a liça de mais um dia imprevisto.

Nevou em Lisboa

(Ontem, dia 29 de Janeiro de 2006) nevou em Lisboa. Confesso a minha excitação e surpresa. Primo, nunca tinha visto neve. Sim, eu eu sei, é um disparate. Mas neve só dos postais. Secundo, estava frio, muito frio. Por momentos pensei que estávamos na Europa. Até tirei fotografias. Tertio, pude desanuviar de uma montagem complicada de mesas de cabeceira do IKEA. Só que foi neve de pouca dura. Mal chegava ao chão, ficava logo lavada em água da chuva. Hoje de manhã, rapidamente a ilusão desapareceu. Portugal está a ficar com um clima parecido com o Norte de África, diz um estudo. Depois à tarde, nova tristeza. A grande notícia da TSF é que no final do encontro entre o novo Presidente da República e o cessante, ambos se despediram com um aperto de mão. Fico sempre apanhada de surpresa. Será que esperavam um grande abraço amigão, como na telenovela? Ou um valento chocho russo? Ou talvez umas pancadinhas firmes nos costados sexagenários de ambos? Não percebo, francamente. No final da notícia, retive apenas que houve um ambiente de grande cordialidade e que não há pressas.
Pobretes mas alegretes. Estranho fado este.

Monday, January 02, 2006

Melancolia

Sim senhora, lá correu mais um ano e nem dei por isso. A não ser talvez na crescente intolerância para com todo o período das festas natalícias e de entradas ao pé coxinho e disparates assim. O feeling já não é o mesmo. Comi as passas mas aquele frémito de excitação que sentia na juventude ou a ansiedade com a promessa de um novo ano parece ter desaparecido. Limitei-me a engoli-las com atenção para não me engasgar, com a RTP Memória a dar o ambiente de fundo e alternando com um programa surreal sobre a vida dura dos duplos no cinema. No dia seguinte, nem procurei sair de casa não fosse dar-se algum azar de 1 de Janeiro de 2006.