Despego a cabeça mole e sem vida da almofada, ofereço cabelos sem que me dê conta. Em frente, apanho o reflexo de um rosto desalinhado de melenas torcidas e levantadas no ar com a força da preguiça matinal e da urgência do shampoo. Estremeço de calafrios. Abro os braços para cima e desentorpeço a cervical enferrujada de uma noite tímida. Destapo-me de rasgo, o edredon voa pesadamente até cair derretido no chão.. Tenho os pés assentes na terra. Dou uma topada nos chinelos, que fogem cada um para o seu canto do quarto escuro e semifranzido. Correm-me as lágrimas de tentar ver as horas sozinha sem ajuda clínica. O despertador emudeceu mas fita-me zombateiro e implacável. Ignoro-o com uma careta. Dou passos curtos até à janela, contando os tacos que reclamam verniz. Puxo o braço direito para fora e deixo que dia me percorra suavemente até que a pele se erice. Regresso o quarto em sprint atlético. Mergulho ofegante na cama mais cinco minutos. A culpa tortura-me até as unhas dos dedos mindinhos. De um salto, ergo tudo e imagino que me esticam os tendões numa ponte. Levanto-me finalmente. Arregalo os olhos de tanta luz. Inaugurei a liça de mais um dia imprevisto.
Monday, January 30, 2006
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